quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O BOBO E SEU DIÁRIO PÚBLICO


Por Afonso Júnior


"Conta-se que em uma pequena cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com alguém que consideravam o "idiota", o "bobo" da cidade. Um "Zé Ninguém", pobre coitado de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates por todos os lados e de esmolas.


Ao final do dia, as pessoas se reuniam em um barzinho e chamavam o bobo para juntas poderem se divertir gozando dele. Ofereciam a ele a escolha entre duas moedas, uma grande de 400 réis e outra menor, de 2000 réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos e zombaria.


Certa vez, um dos "inteligentes" do grupo chamou o bobo e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.


- Eu sei - respondeu o não tão bobo assim. - Ela vale cinco vezes menos. Mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda."


Com este texto completo dois anos da Coluna Diversidade.


Nosso espaço foi criado para falar sobre acessibilidade, inclusão social e pessoas com necessidades especiais. Passou por reformulações e se reinventou, abordando novos temas como o bem-estar e a saúde do corpo e da mente. Por aqui passaram pessoas mais do que especiais... Escreveram artigos, compartilharam suas opiniões e fizeram parte deste nosso espaço.


prestes a completar dois anos de Coluna, recebo uma dura crítica sobre meus textos... "O jornal é algo muito nobre para que você faça dele um diário público".


Sei que este tipo de leitura pode não agradar a todos. Sei também que como escrevo, preciso estar preparado para receber críticas positivas e negativas. Mudar... Quem sabe? Dar um tempo... Quem sabe? Parar... Por que não?


O que importa é que talvez eu possa estar realmente fazendo o papel do "bobo" para algumas pessoas... Mas quero deixar claro que isso é um papel e não sou o único a fazer isso... Quem não se sente um bobo quando vê "ladrões engravatados" ganhando cada vez mais dinheiro em jogos sujos? Quem não se sente um bobo quando vê as péssimas condições de nossas cidades mesmo pagando impostos em tudo? quem não se sente um bobo quando vê a falta de acessibilidade para pessoas portadoras de necessidades especiais? Quando vê os desvios de dinheiro do governo? Quando vê pessoas sendo enganadas? Idosos e crianças sendo mal tratados? Pessoas que vivem de trabalhar e que vão morrer trabalhando e sem aproveitar a vida? Você não se sente um bobo?


Quando escrevo meus textos e publico no jornal e na internet, estou sim querendo ser lido... Querendo fazem algumas pessoas pararem para pensar um pouco, para buscarem a calma na sua rotina, buscar a tão difícil qualidade de vida e encontrar a paz interior.


Eu sempre me permito um momento comigo. Durante minhas 24 horas do dia, pelos menos 5 minutos, me permito parar um pouco, fechar meus olhos, pensar em como está minha vida, se estou me divertindo, arejar minha cabeça, relaxar... E talvez daí surge um texto que publico. Será que estou sendo bobo por compartilhar o que tenho aprendido? Ou bobo é aquele que aprende e não consegue colocar em prática e compartilhar?


Sim, porque aprender, todos aprendem... A maneira como isso acontece é que é diferente e pode ser especial ou não... Pode ser pela felicidade ou pela dor... Pelo ódio ou pelo amor...


Aprendi com Soninha Francine que enquanto escrevemos não estamos falando com nossos leitores, mas estamos tentando fazer com que nós mesmos estejamos atentos para nos ouvirmos.


Sobre a história do bobo, fica a conclusão que podemos estar bem mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.


Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas o que relamente somos.


Quero agradecer aos meus "fiéis leitores" do jornal e do blog durante estes dois anos. A todos e-mails recebidos. A cada pessoas que teve a preocupação de parar comigo na rua e comentar algo. A quem comprou o jornal e passou os textos para frente. A quem aprendeu algo. A quem criticou e compartilhou com meus pensamentos ou a quem não gostou (saibam que foram importantes para meu crescimento). A toda equipe do Jornal Nova Gazeta e a esse Universo que descubro ser cada vez maior, cada vez mais bonito e cada vez mais correto! Obrigado!


Ah! Semana que vem tenho mais aprendizados para compartilhar com vocês! Boa semana!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PERDI AS JABUTICABAS!

Por Afonso Júnior


No quintal da minha casa havia duas jabuticabeiras e era ali, que junto com primos e amigos de escola, que passávamos dias e dias brincando quando éramos crianças. Em épocas que não haviam frutas, as jabuticabeiras serviam de sombra para nossas brincadeiras e também se tornavam um bom esconderijo. Todo mundo se arriscava e conseguia chegar nos galhos mais altos! Já nos galhos mais fortes amarrávamos uma corda e a gangorra estava pronta para nossa diversão. E ficar na fila aguardando a vez não era problema, afinal, tínhamos todo o tempo do mundo! Brincadeiras de circo abriam espaço em nossa imaginação e éramos palhaços, malabaristas e personagens de TV. Só parávamos quando o sol resolvia ir embora ou quando biscoitos de polvilho da vovó e bolos de chocolate nos esperavam sobre a mesa grande da cozinha.


Mas bom mesmo era quando as jabuticabas davam o ar da graça! Uma jabuticabeira bem florida indicava que em breve nossas brincadeiras seriam mais doces! E assim era feito!


Em época de jabuticabas, passávamos mais tempo ainda no quintal. Esperar elas amadurecerem era difícil e parecia demorado. "Só mais uma chuva e vão estar no ponto" era a frase que nós crianças ouvíamos. Mas logo o cantar dos passarinhos ficavam mais altos e sabíamos: hora de atacar. Quanta diversão!


Competíamos com os pássaros que também atacavam as jabuticabas e juntos fazíamos uma farra no quintal. Jogar caroço no amigo que estava mais baixo era motivo de riso e diversão. Aliás, não sei o que não era motivo para boas gargalhadas!


Como tudo isso me fazia bem! Como tudo isso foi importante para minha formação! Gostaria que toda criança tivesse uma jabuticabeira e um quintal bem verde para brincar e passar seus dias também.


Não é de se estranhar meu fascínio pelas jabuticabeiras e pelas jabuticabas! Hoje, como adulto, já até li artigos científicos que falam que as jabuticabas apresentam muitos mais antociaminas (uma substância que faz um bem danado para as artérias e para o coração) do que a uva.


Que a jabuticaba faz bem ao coração minhas vivências já me contaram e eu não precisaria de artigos científicos e pesquisas para saber disso... Essas pequena fruta me fascina pelo seu sabor, pelo seu cheiro, pelas suas folhas e até pelo seu barulho de "ploc" quando estouram na nossa boca.


Mas este ano foi diferente... Perdi as jabuticabas!


Fui para a casa dos meus pais na primeira semana de novembro e logo perguntei sobre minhas frutas preferidas: "Chegou tarde, os passarinhos já comeram tudo!" foi a resposta que ouvi.


E, acreditem, este ano não consegui pegar nenhuma jabuticaba!


Como é fácil deixar as coisas que gostamos para trás. Como é fácil abrir mão de coisas que nos fazem o bem para gastarmos horas e horas em atividades estressantes e cansativas. Será que o dinheiro vale mesmo todo este esforço?


Ter dado uma pausa em minhas tarefas, entrado em meu carro e ido de encontro aos pés de jabuticaba da minha infância realmente não resolveria nenhum de meus problemas. Mas me equilibraria emocionalmente e me deixaria mais forte e criativo para enfrentar qualquer obstáculo que aparecesse logo em seguida.


É importante aprendermos com a natureza: tudo tem seu momento. As jabuticabas vêm e rapididinho vão embora. Nossos problemas também! Tudo é passageiro e precisamos aproveitar cada oportunidade que nos é dada a cada dia. Se esqueci das jabuticabas, infelizmente, o problema é apenas meu!


Conheço muita gente que não se dá o direito de fazer coisas que gosta. Procuro sempre estar lendo, me presenteando com coisas que gosto, assistindo programas de TV que me identifico, dormindo até mais tarde nos fins-de-semana, frequentando bares e pizzarias que amo, ouvindo minhas músicas preferidas, cuidando de minhas plantas, jogando vídeo-game, passando alguns minutos sobre uma esteira de massagens e me arrisco até a procurar uma cachoeira uma vez ou outra. Essas são atividades que me fazem o bem, que me deixam forte para enfrentar toda a correria do dia-a-dia e que me transmitem paz interior e sossego.


E espero que você também se dê o direito de curtir este mundo um pouco. Trabalhar é importante sim. E como é! Mas aproveitar este mundo e fazer coisas que você gosta... Ah, para mim, esta é uma questão que não se discute!


P.S.: Quero agradecer à minha aluna Flaviele que me presenteou com uma deliciosa geléia de jabuticabas caseira. Você adoçou minas manhãs!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

VOCÊ ESTÁ MAL AGRADECIDO?



Por Afonso Júnior


Tenho aprendido tantas coisas novas! Claro, a faculdade e minhas pós-graduações me deram conhecimentos pelos quais sou eternamente grato. Tenho também a oportunidade de viver em um meio universitário que me enche de conhecimentos todos os dias. O estudo constante, noites adentro, provas e trabalhos a serem apresentados... A cada novo paciente uma nova história, uma vida diferente, um novo olhar, outras perspectivas... Meu trabalho não tem muita rotina!


Mas confesso que tenho ganhado aprendizagens gratuitas e todas através de vivências e observações. Tenho procurado me sentir mais "vivo" e "integrado" ao mundo e para isso tenho recorrido muito aos meus sentidos.


Ouvir tudo com mais atenção, sentir os cheiros e os sabores da vida, observar com calma cada detalhe e utilizar minhas mãos para sentir e perceber sensações e texturas diferentes.


No feriado fui passear em Lavras Novas com amigos. Durante a viagem, sentado no banco do carona, fechei por alguns segundos os olhos e passei a observar o que é ter a sensação de "estar vivo". A brisa que batia em meu rosto e braço, o balançar do carro, o cheiro da mata verde e da chuva que molhou o chão, os sons dos pássaros e o barulho do motor do carro. Foi tudo muito rápido, mas maravilhosamente encantador.


Tenho procurado ser mais grato a tudo. À minha vida, meus cinco sentidos, meu trabalho, meus dons, meus movimentos, minha inteligência, as pessoas que me cercam, o dinheiro que eu ganho, minhas capacidades, minha voz, meu corpo, plantas que nascem próximas a mim...


Assim como muitas pessoas, já passei pela fase de "reclamar" de tudo. Ouvindo uma palestra me dei conta disso: "você reclama porque não tem um trabalho, corre muito atrás, distribui currículos por todos os lados e quando arruma, reclama do trabalho...". Somos assim mesmo. Basta começar a reclamar de algo que logo a roda se abre e as reclamações são gerais.


Em uma conversa com um amigo pelo MSN, ele me disse que estava triste porque não conseguia permanecer namorando firme com ninguém. Começa um namoro e depois de duas semanas "enjoa" da pessoa e troca. Depois continua sozinho e arruma outras até enjoar novamente. Ele ainda me disse que está enjoado de viver isso. Ainda bem que ele reconheceu que está enjoado. Será que o problema está com as pessoas com quem ele relaciona ou com ele mesmo? As outas pessoas estão enjoadas ou ele é quem está enjoado?


Como somos mal agradecidos! Estou cada vez mais impressionado com isso.


Ah, lembrei de uma história que fecha nosso assunto de hoje com chave de ouro. Vou tentar resumir:


Havia em uma pequena vila uma senhora muito humilde. Todas as tardes, saía para buscar lenha. Certo dia, ao passar próximo a uma moita de samambaia ouviu um gemido e choros de dor. Assustada, chegou mais perto e descobriu um homem caído.


Ele estava muito pálido e tinha uma mancha de sangue em sua roupa, bem próximo ao coração. Ele estava quase inconsciente por já ter perdido muito sangue. Preocupada, a senhora o ajudou da forma como pôde.


Conseguiu com muita dificuldade levá-lo para sua casa que era muito simples e cuidou durante um tempo do homem machucado.


Como o passar do tempo ele foi se recuperando. Acabou lembrando que tinha sido assaltado, que reagiu e acabou levando uma facada no peito. Mas disse que conhecia quem o havia atacado e, portanto, agora que estava melhor, iria se vingar. Queria que o assaltante sofresse a mesma dor que ele sofreu!


A senhora olhou fixamente para ele e disse: "Vá e faça o que deseja. Mas quero te informar que você me deve três mil moedas de ouro como pagamento pelo tratamento que te ofereci."


O homem ficou muito assustado e disse que era muito dinheiro e que não tinha condições de pagar esse valor. Então, a senhore disse: "Se não pode pagar pelo que recebeu, com que direito quer cobrar o mal que lhe fizeram?"


O homem ficou muito confuso e então a pobre senhora concluiu: "Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que acontecem em sua vida, pois a vida pode lhe cobrar tudo de bom que lhe ofereceu."


Interessante, né? Você vive reclamando de tudo? Que tal viver uma experiência diferente? Durante as próximas 24 horas, deixe as reclamações de lado. Apenas agradeça! Comece agradecendo pelas coisas mais simples e que passam despercebidas, pelas pessoas que você gosta e também pelas que você não gosta e que com certeza já te ensinaram muitas coisas. Agradeça pela água que toma, pelo alimento que come, pelo seu emprego (ou até mesmo pela falta dele), pela sua família, pelos seus movimentos e por sua capacidade de ler um texto como este, por exemplo. Agradeça por este texto ter chegado em suas mãos. Comece a agradecer e prepare-se para novos rumos, boas mudanças e uma vida repleta de boas energias. Eu garanto!


Até semana que vem!