quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PERDI AS JABUTICABAS!

Por Afonso Júnior


No quintal da minha casa havia duas jabuticabeiras e era ali, que junto com primos e amigos de escola, que passávamos dias e dias brincando quando éramos crianças. Em épocas que não haviam frutas, as jabuticabeiras serviam de sombra para nossas brincadeiras e também se tornavam um bom esconderijo. Todo mundo se arriscava e conseguia chegar nos galhos mais altos! Já nos galhos mais fortes amarrávamos uma corda e a gangorra estava pronta para nossa diversão. E ficar na fila aguardando a vez não era problema, afinal, tínhamos todo o tempo do mundo! Brincadeiras de circo abriam espaço em nossa imaginação e éramos palhaços, malabaristas e personagens de TV. Só parávamos quando o sol resolvia ir embora ou quando biscoitos de polvilho da vovó e bolos de chocolate nos esperavam sobre a mesa grande da cozinha.


Mas bom mesmo era quando as jabuticabas davam o ar da graça! Uma jabuticabeira bem florida indicava que em breve nossas brincadeiras seriam mais doces! E assim era feito!


Em época de jabuticabas, passávamos mais tempo ainda no quintal. Esperar elas amadurecerem era difícil e parecia demorado. "Só mais uma chuva e vão estar no ponto" era a frase que nós crianças ouvíamos. Mas logo o cantar dos passarinhos ficavam mais altos e sabíamos: hora de atacar. Quanta diversão!


Competíamos com os pássaros que também atacavam as jabuticabas e juntos fazíamos uma farra no quintal. Jogar caroço no amigo que estava mais baixo era motivo de riso e diversão. Aliás, não sei o que não era motivo para boas gargalhadas!


Como tudo isso me fazia bem! Como tudo isso foi importante para minha formação! Gostaria que toda criança tivesse uma jabuticabeira e um quintal bem verde para brincar e passar seus dias também.


Não é de se estranhar meu fascínio pelas jabuticabeiras e pelas jabuticabas! Hoje, como adulto, já até li artigos científicos que falam que as jabuticabas apresentam muitos mais antociaminas (uma substância que faz um bem danado para as artérias e para o coração) do que a uva.


Que a jabuticaba faz bem ao coração minhas vivências já me contaram e eu não precisaria de artigos científicos e pesquisas para saber disso... Essas pequena fruta me fascina pelo seu sabor, pelo seu cheiro, pelas suas folhas e até pelo seu barulho de "ploc" quando estouram na nossa boca.


Mas este ano foi diferente... Perdi as jabuticabas!


Fui para a casa dos meus pais na primeira semana de novembro e logo perguntei sobre minhas frutas preferidas: "Chegou tarde, os passarinhos já comeram tudo!" foi a resposta que ouvi.


E, acreditem, este ano não consegui pegar nenhuma jabuticaba!


Como é fácil deixar as coisas que gostamos para trás. Como é fácil abrir mão de coisas que nos fazem o bem para gastarmos horas e horas em atividades estressantes e cansativas. Será que o dinheiro vale mesmo todo este esforço?


Ter dado uma pausa em minhas tarefas, entrado em meu carro e ido de encontro aos pés de jabuticaba da minha infância realmente não resolveria nenhum de meus problemas. Mas me equilibraria emocionalmente e me deixaria mais forte e criativo para enfrentar qualquer obstáculo que aparecesse logo em seguida.


É importante aprendermos com a natureza: tudo tem seu momento. As jabuticabas vêm e rapididinho vão embora. Nossos problemas também! Tudo é passageiro e precisamos aproveitar cada oportunidade que nos é dada a cada dia. Se esqueci das jabuticabas, infelizmente, o problema é apenas meu!


Conheço muita gente que não se dá o direito de fazer coisas que gosta. Procuro sempre estar lendo, me presenteando com coisas que gosto, assistindo programas de TV que me identifico, dormindo até mais tarde nos fins-de-semana, frequentando bares e pizzarias que amo, ouvindo minhas músicas preferidas, cuidando de minhas plantas, jogando vídeo-game, passando alguns minutos sobre uma esteira de massagens e me arrisco até a procurar uma cachoeira uma vez ou outra. Essas são atividades que me fazem o bem, que me deixam forte para enfrentar toda a correria do dia-a-dia e que me transmitem paz interior e sossego.


E espero que você também se dê o direito de curtir este mundo um pouco. Trabalhar é importante sim. E como é! Mas aproveitar este mundo e fazer coisas que você gosta... Ah, para mim, esta é uma questão que não se discute!


P.S.: Quero agradecer à minha aluna Flaviele que me presenteou com uma deliciosa geléia de jabuticabas caseira. Você adoçou minas manhãs!

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