Ouvindo o novo cd da Maria Bethânia, me deparei com uma frase lidíssima que diz o seguinte: “o mais importante do bordado é o avesso...”.
Curiosamente repensei essa frase e apliquei em minha vida. Convido você para também fazer isso. Veja bem: o mais importante em nossa vida, não é o que somos externamente, mas sim internamente! O nosso lado externo reflete o nosso lado interno. Pelo menos é assim que deveria ser...
Quantas vezes vivemos em um estado de ansiedade, frustrados, cansados, de mau humor, mas sempre passando para os outros que estamos bem? Quantas vezes vestimos a “máscara do bom humor” para tentarmos passar uma falsa imagem que está tudo bem?
Não entendo muito bem de bordado, mas sei que quando as pessoas vão comprar algo feito à mão, para avaliar a qualidade, buscam sempre o avesso. Apesar de ser o que não aparece, ele é o mais importante. Demonstra a qualidade, o cuidado.
Como está o seu avesso? Como você está internamente? Vive demonstrando uma falsa realização, uma falsa alegria?
Saiba que viver bem consigo mesmo é o que conta. E viver bem significa ter um equilíbrio interno e externo.
Hoje trago um texto do Padre Fábio de Melo. Fala sobre o que carregamos pela vida... Quem sabe não seja hora de parar e avaliar o seu avesso e talvez deixar para trás os nós mais embaraçados que tem impedem de viver plenamente?
O peso que a gente leva...
Padre Fábio de Melo
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?
As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?
Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...
Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.
2 comentários:
Olá. Sou super fã de Bethania e do repertório que ela escolhe para cantar a vida. Ela canta para viver. VIve ao cantar. E nos encanta. Muito legal a reflexão sobre o nosso avesso. Lembrei, ao ouvir a canção a que se refere, o que disse Clarice LIspector: o mais importante não se sabe falar. Parabéns pelo espaço, pelo blog, pelo texto.
Oi! Obrigado pelo comentário! Tb sou fã da Bethânia! Depois deixe o e-mail para mantermos contato!
Abração!
JR
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