Há algum tempo fui convidado para fazer uma palestra aqui em nossa cidade e nos slides acabei escrevendo o termo “pessoas com deficiências”... Na platéia estavam professores, profissionais da área da saúde e universitários... Não preciso falar que fui criticado por este termo. Me disseram que isso seria um estigma e que este termo não existia mais. Tudo bem... Apenas re-editei os slides durante a própria apresentação e escrevi: “pessoas com necessidades especiais”.
Hoje, visitando o blog Mão na Roda do Eduardo Câmara (http://oglobo.globo.com/blogs/maonaroda/), li um texto que me fez pensar naquele dia da palestra...
O texto é de autoria da Bianca Marotta, que no próprio blog assim se define: “Andante, há pouco tempo namorando um cadeirante e aprendendo a ver o mundo com um novo olhar”. Dêem uma olhada:
Suuuuper Especial
Bianca Marotta – 16-12/2008 – 15:07
Nunca fui fã do termo “pessoas com necessidades especiais”, muito menos de “pessoas especiais” (que acho ainda pior). Ambos me passam a impressão de discriminação e preconceito. Em relação ao primeiro deles, entendo que todas as pessoas do mundo tenham algum tipo de necessidade especial, por isso ele não deve ser aplicado apenas àqueles que tem algum tipo de deficiência física ou mental. Os diabéticos precisam de insulina, algumas pessoas que passam por algum tipo de intervenção cirúrgica, como a retirada da tireóide ou do útero, necessitam repor hormônios para o resto da vida. Muitos deprimidos tomam prozac, aqueles que não sabem fazer contas de cabeça, usam uma calculadora e as pessoas com deficiência física precisam de uma rampa ou elevador para subir alguns andares. Percebem?
O segundo termo me irrita ainda mais. “Pessoas especiais”. Juro! Antes mesmo de começar a namorar o Dado, eu já não gostava de usá-lo, nem de ouvi-lo. Acho hipócrita, ridículo até. Dizer que uma pessoa com deficiência física ou mental é especial, carrega uma forte característica de exclusão e preconceito. Catei a palavra no iDicionário Aulete e tive a certeza de que não estava enganada. Vejam:
especial 1. Que não é geral, mas específico, particular: Recebeu instruções especiais para a missão.
2. Que é exclusivo para uma pessoa ou um grupo de pessoas.
3. Que é próprio de uma espécie: ônibus especial da empresa.
4. Que tem aplicação específica; ESPECÍFICO; PECULIAR.
5. Que é fora do comum: produto especial para diabéticos.
Etc etc etc...
Pois é. Nunca achei esse termo simpático. Parece-me que as pessoas que o usam, sentem uma mistura de culpa, pena e constrangimento, e acham que chamar as pessoas com deficiência de especiais, ameniza essa sensação. Gente, não é preciso esconder nada! Quanto mais a gente acoberta a deficiência de alguém com neologismos que tentam amenizar as diferenças, mais a gente contribui com a discriminação e menos a gente se aproxima de uma sociedade igualitária.
E pra estar certa de que não iria dizer nenhuma besteira, dei uma pesquisada na internet, antes de escrever este texto. Pra minha sorte e alegria encontrei um texto excelente, escrito em 2005 por Romeu Kazumi Sassaki, que explica a origem e a evolução de todos os termos utilizados até hoje para denominar as pessoas com deficiência. Sua conclusão, por sinal, era a que eu imaginava: as próprias pessoas com deficiência preferem e querem ser chamadas assim. E ponto final!
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Então... Confusos? Que termos deveríamos usar: pessoas portadoras de necessidades especiais, pessoas especiais ou pessoas com deficiências? Difícil, né?
O que devemos fazer é nunca esquecermos que antes de qualquer termo usado, neste caso, para designar sempre a mesma coisa, existe a palavra que designa o mais importante: PESSOA (essa sim, um ser, portador de sentimentos, de vontades, de questões psicológicas, fisiológicas e sociais). Afinal, como questionou Bianca, quem de nós não possui alguma deficiência?
Ah, aproveite este finalzinho de férias e faça uma visita ao Blog Mão na Roda! Tenho certeza que você vai passar bons momentos na internet, ler coisas boas e aprender muito também! Segue o link: http://oglobo.globo.com/blogs/maonaroda/
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Estou aguardando seu contato!
2 comentários:
Olá, Junior!
Seus textos são muito legais! Confesso que fiquei curiosa para saber mais sobre o seu trabalho.
Li o texto e fiquei com uma dúvida: o pessoal da platéia que pediu para você mudar "pessoas com deficiência" para “pessoas com necessidades especiais”?
Abraço
Sou estudante de Terapia Ocupacional e estou pagando uma disciplina chamada Deficiência Mental; estou aprendendo que termos como cadeirante, não são interessantes usar porque limita o indivíduo; o correto seria pessoa que faz uso de cadeira de rodas. Texto muito interessante! Adorei seu blog!!!!
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