QUANDO A INCLUSÃO PREOCUPA...
Afonso Júnior
*Terapeuta Ocupacional
Hoje em dia ficou tão comum falar em inclusão escolar que fico preocupado... Mas como assim, preocupado por causa da inclusão? Sim! Por causa da inclusão! Por que sei que existem muitos por aí que ao menos sabem o que é inclusão e pensam que colocar uma pessoa com necessidades especiais dentro de uma sala de aula de uma escola regular é fazer inclusão!!! Não é e nunca será!
A inclusão precisa ser entendida como um processo que envolve professores, alunos, pais, profissionais da área da educação e da saúde, funcionários da escola, materiais, apoio, adaptações, espaço físico... Um monte de detalhes que precisam ser analisados, pensados e repensados.
Hoje, trago um texto que foi escrito por duas Terapeutas Ocupacionais que outras vezes já apareceram aqui na Coluna Diversidade: Graziele e Talita. No texto que elas escreveram especialmente para a Coluna Diversidade, alguns questionamentos são levantados a respeito desta tão falada “inclusão escolar”. Vale muito à pena ler tudo!
COMO DEVE OCORRER O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DE PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS?
Por: Graziele Carolina de Almeida
Talita Ferreira Gonçalves
Terapeutas Ocupacionais
Na literatura clássica e na história do homem é fácil perceber o pensar discriminatório da sociedade em relação às pessoas com necessidades especiais (PNEs), num contexto onde a sociedade tem observado com maior facilidade os impedimentos e as aparências de cada pessoa ao invés de suas potencialidades.
A pessoa com necessidades especiais (PNE) nem sempre foi valorizada e respeitada. Por isto, durante muitos anos elas foram vistas como vítimas de abandono, rejeição, maus-tratos e até mesmo mutilações (MENDES,2006).
A partir do século XIX a sociedade passou a perceber que a criação de organizações onde a pessoa com necessidades especiais fosse aceita e ingressada possibilitaria não somente um melhor tratamento de seus problemas, mas também reduziria significativamente seus gastos. Dessa forma, as instituições foram se especializando e tornando-se cada vez mais aptas a auxiliarem na inclusão destas pessoas.
A história da inclusão, em geral, foi marcada por movimentos e modelos que, de certa forma, auxiliaram no processo de inclusão. Porém, a realidade da inclusão ainda é marcada por muitas limitações, as quais impedem o desenvolvimento da pessoa com necessidades especiais.
O paradigma da inclusão escolar, representado pelo caleidoscópio, preconiza a inserção incondicional do aluno desde o início de sua trajetória escolar, o qual se efetiva sem a mediação do ensino. Esta ação visa transformar a escola e os ambientes educacionais, promovendo mudanças de atitudes e o convívio natural com as diferenças, como a experiência de formação pessoal e profissional.
De acordo com Mantoan, jamais haverá inclusão se a sociedade se sentir no direito de escolher quais pessoas com necessidades especiais poderão ser incluídos. É preciso que as pessoas falem por si mesmas, pois conhecem as suas expectativas e dificuldades como qualquer cidadão. Mas não basta apenas ouvi-los, é necessário também propor e desenvolver ações que venham modificar e orientar as formas de se pensar na própria inclusão.
Por isto, os princípios da inclusão aplicam-se não somente aos alunos com estas limitações ou sob risco, mas a todos os alunos. As questões desafiadoras enfrentadas pelos alunos e pelos educadores nas escolas de hoje não permitem que ninguém se isole e se concentre em uma única necessidade ou em um grupo-alvo de alunos.
A integração passa a ser um processo expontâneo, onde a subjetividade envolve direta e pessoalmente o relacionamento entre os seres humanos. Este modelo é um processo gradual e dinâmico, que pode tomar distintas formas, segundo as habilidades e performances dos alunos. Refere-se ao processo de escolarização, no mesmo grupo de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais ou não, durante um período ou a totalidade de sua permanência na escola (SÁ, 1997).
O princípio da integração consiste na igualdade de direitos, privilégios e deveres tanto quanto na participação ativa e na interação social, em ambientes, o menos restritivo possível, respeitando-se as diferenças individuais.
Integrar significa adaptar-se, acomodar-se, incorporar-se. Não é a melhor palavra porque se presume sempre que se trata da reunião de grupos diferentes. Reflete sempre uma ação da pessoa com necessidades educativas especiais para tentar adaptar-se, incorporar-se. Já a inclusão não. Ela significa envolver, fazer parte, pertencer. Significa trazer para dentro de um conjunto alguém que já faz parte dele (FÁVERO, 1998).
Há alguns anos a inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais no âmbito escolar regular era considerada irreal pela maioria das pessoas. Porém, ao ser analisada a inclusão genuína, percebe-se que a inserção de pessoas com necessidades educativas especiais na rede regular de ensino, não consiste em simplesmente inserir estas pessoas nas classes, sem terem apoio de professores, alunos e de uma equipe que auxilie no acompanhamento de seu processo de ensino.
As pessoas com necessidades especiais necessitam de instruções, de instrumentos, de técnicas e de equipamentos especializados que propiciem seu processo de aprendizagem na rede regular de ensino. Todo este apoio deve ser integrado, possibilitando a reestruturação das escolas e das classes. Os apoios existentes neste contexto devem ser centrais e não periféricos, na rede regular de ensino, de forma que o ensino inclusivo possa atingir a todos os alunos, professores e de um modo geral, a sociedade.
A atuação da comunidade na propiciação da educação inclusiva ainda apresenta algumas ações divergentes, as quais prejudicam a inclusão de pessoas com necessidades especiais tanto no âmbito escolar quanto no social. Por isto, observa-se claramente a necessidade da mudança da postura de alguns professores para propiciar este processo. Esta mudança deve se ater às novas formas de especializações, onde o mesmo utilize-se de sua criatividade para propiciar o aprendizado de novas habilidades por parte de seus alunos especiais.
É interessante ressaltar que, o acompanhamento realizado por uma equipe técnica no contexto inclusivo escolar regular, deve objetivar a interação das pessoas com necessidades especiais no âmbito escolar, e também no âmbito social, favorecendo as trocas, e auxiliando o processo de aprendizagem da pessoa com necessidades especiais. Estas intervenções devem ser embasadas em práticas pedagógicas, porém o que se espera realmente com ela não é o aprendizado curricular “normal” estabelecido por diversas escolas, mas sim o estabelecimento de novas práticas, onde as habilidades e potencialidades da pessoa com necessidades educativas especiais sejam usadas como instrumentos para o alcance do aprendizado da mesma.
Não é necessário que a pessoa que apresenta certas limitações ou dificuldades, saía da escola sabendo tudo que uma pessoa considerada normal deve saber, pois até mesmo, algumas vezes, as pessoas ditas normais, apresentam dificuldades que as limitam no processo de aprendizagem, de forma que também não fixam e não utilizam àquilo que foi adquirido.
A educação especial não deve ser vista como um mero ato de inserção de alunos especiais em classes regulares de ensino, mas de interações que possibilitem e estimulem as trocas. Dessa forma sim, o estabelecimento de novos ensinos, através da singularidade dos mesmos, será estabelecido.
Por isso, o desafio comum é estender a inclusão a um número ainda maior de escolas e comunidades, utilizando-se ao mesmo tempo, a forma facilitadora e auxilio da aprendizagem como forma de ajustamento de todos alunos – sejam eles com ou sem necessidades educativas especiais – em um mesmo ambiente.
Você está gostando do nosso espaço? Tem alguma crítica ou elogio? Quer participar também? Entre em contado conosco! Pela internet:
http://www.colunadiversidade.arteblog.com.br/ Pelo e-mail:
colunadiversidade@hotmail.com Por carta: Redação do Jornal Nova Gazeta: Coluna Diversidade Ou telefax: (31) 3763.577 Estamos esperando seu contato!